O episódio da revogação do visto do secretário de Atenção Especializada à Saúde, Mozart Sales, pelos Estados Unidos não é apenas um ataque pessoal: é um sinal claro da escalada de uma política externa que transforma solidariedade em crime e cooperação em pretexto para sanções. Estamos falando de um homem que ajudou a implementar o programa Mais Médicos — iniciativa que levou médicos a onde o sistema de saúde sempre faltou — e que agora é punido por isso. Desde quando salvar vidas passou a ser motivo de intimidação internacional?!
“O Programa Mais Médicos pelo Brasil é uma iniciativa primordial do Governo Federal para garantir o necessário atendimento de saúde a milhões de brasileiras e brasileiros em todas as regiões do país”, afirmou Mozart Sales, lembrando seu papel na concepção do programa. O governo estadunidense, por meio de medidas anunciadas por figuras do seu establishment, decidiu revogar o visto de Sales alegando sua participação, entre 2013 e 2018, na parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Cuba para enviar médicos a áreas carentes. A grotesca ironia: uma política humanitária tratada como se fosse ameaça geopolítica.
Vale repetir algo que a direita e seus amanuenses midiáticos fingem não compreender: o Mais Médicos não foi um espetáculo ideológico — foi saúde pública em movimento. Levou atendimento a quem nunca pôde escolher médico, reduziu dores, sofrimento e mortes. Mozart recorda que, à época da criação, médicos cubanos já atuavam em 58 países com diferentes alinhamentos políticos, por meio de mecanismos de cooperação internacional. “Graças a essa iniciativa, a presença de profissionais brasileiros, cubanos e de outras nacionalidades ofereceu atenção básica de saúde e mãos fraternas a quem mais precisava. Diminuiu incontáveis dores, sofrimentos e mortes”, declarou ele com a clareza que falta a muitos detratores.
Não é só retórica: o próprio Datafolha de 2013 mostrou 87% de aprovação popular ao programa, e estudos acadêmicos registraram impactos positivos mensuráveis na saúde de comunidades antes desassistidas. Ainda assim, aparece a mão pesada da diplomacia punitiva dos EUA, que agora combina a revogação de vistos com tarifas punitivas a produtos brasileiros e outras pressões contra autoridades — inclusive ministros do Supremo. Pretendem ensinar o Brasil a governar? Que ironia: querem ditar limites a um país que ousou fortalecer seu Sistema Único de Saúde!
“Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo — universal, integral e gratuito”, disse Mozart, cortando pela raiz a pretensa legitimidade das sanções. Se colaborar com a Opas e com Cuba para levar médicos é crime, então somos todos cúmplices da humanidade — e orgulhosos disso. Bolsonaro e seus aliados tentaram desmontar programas sociais e vender o país ao capital; agora vemos aliados externos punindo quem praticou a solidariedade que a direita despreza.
Essa ofensiva estrangeira não cai no vazio político. Ela revela interesses que preferem mercados e lucros ao direito à saúde, que veem estatais e políticas públicas como entraves. Nós, que lutamos por um projeto popular e anticapitalista, não podemos aceitar que cooperação internacional seja criminalizada em nome de uma doutrina que protege bilionários e privatizações. A defesa do SUS e de iniciativas como o Mais Médicos é parte central dessa disputa: não se trata apenas de política pública, mas de quem manda no Brasil — o povo ou os interesses estrangeiros e a plutocracia local.
A reação deve ser firme e consciente. Não queremos escaladas, mas tampouco nos curvaremos a chantagens. É hora de reforçar alianças pela soberania sanitária, ampliar a solidariedade internacional com programas que salvam vidas e politizar cada tentativa de intimidação como aquilo que é: ataque ao direito universal à saúde e à autonomia do povo brasileiro. Se revogar vistos é a resposta aos que estendem a mão para salvar vidas, então que fique claro quem são os verdadeiros inimigos do povo — e que lutemos para derrotá-los politicamente, com políticas públicas, mobilização social e a coragem de quem sabe que outro Brasil é possível. Defender o Mais Médicos é defender o SUS e a dignidade do povo brasileiro.