O Supremo Tribunal Federal colocou na mesa o que deveria ser prioridade desde o primeiro dia: julgar o núcleo duro do golpe bolsonarista sem mais delongas. Depois de meses de manobras, negacionismos e tentativas de empurrar a história para debaixo do tapete, o relator Alexandre de Moraes solicitou oficialmente — na última quinta-feira (14) — que o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, inclua o caso na pauta. A expectativa dos próprios ministros é clara: o julgamento deve começar em setembro e ser concluído, no máximo, até outubro. E por que isso é tão urgente? Porque não se trata de um tribunal de vaidades, mas do processamento de uma tentativa de ruptura democrática cujo núcleo estava articulado no mais alto escalão do governo que quase acabou com nossas instituições.
A estratégia da defesa e da claque bolsonarista ficou à vista: atrasar, atrasar e atrasar. Advogados ensaiaram uma mudança de argumento nas alegações finais — agora admitem que, no fim do governo, foram discutidas “alternativas” para manter Bolsonaro no poder, mas repetem como mantra que nada saiu do papel e que o ex-presidente não assinou a tal minuta do golpe. Tecnicamente, um pedido de vista ainda pode empurrar o processo por até 90 dias, mas os próprios cortes esperam que isso não ocorra: *todos os ministros acompanharam, em tempo real, a instrução*, com acesso integral a documentos, testemunhos e interrogatórios. Ou seja, não há desculpa técnica para postergar indefinidamente.
Não é distração: é responsabilidade do Judiciário com a democracia. A falácia de que nada foi praticado concretamente é apenas a última roupagem do cinismo político — claro que existiram reuniões, rascunhos e planejamento. O que se discute agora é a dimensão da responsabilidade criminal e política daqueles que arquitetaram a tentativa de golpe. A defesa tenta transformar provas em incógnitas, apostando que a burocracia judicial e os prazos possam salvar réus que, se fossem cidadãos comuns, já teriam sido condenados por coordenação de crimes contra a ordem constitucional.
Quem quer atrasar e por quê?
Os aliados de Bolsonaro jogam o jogo do adiamento para ganhar tempo político. Por que isso importa? Porque cada dia a mais sem resolução mantém viva a possibilidade de organização e impunidade que a extrema direita precisa para se recompor. Enquanto isso, setores progressistas e democráticos precisam de clareza: a sociedade exige julgamento célere e transparente. Quem planejou a ruptura democrática não pode contar com a proteção do calendário político.
Os ministros do STF sabem que o processo foi acompanhado por todas as partes — inclusive por magistrados em tempo real — durante a instrução. Portanto, a alegação de desconhecimento não deveria prosperar. Mas a política não dorme: existem sempre tentativas de usar brechas processuais para transformar o tribunal em terreno de batalha midiática e dilatória. Não podemos permitir que a legislação seja usada como escudo para a impunidade.
É imprescindível que o julgamento revele, com transparência, os nomes, as redes e os mecanismos usados para tentar destruir a ordem democrática. A verdade não é apenas um ato jurídico: é um gesto político que mira na reconstrução da confiança pública. Para nós, que lutamos por um projeto popular e anticapitalista, é também a chance de varrer do poder uma direita que celebra bilionários, privatizações e o desmonte do Estado.
Este julgamento não é um capítulo isolado: ele faz parte da batalha maior pela soberania popular e pelo fortalecimento das instituições que o capital voraz quer subverter. Lula e o PT, apesar de alvo constante da direita, têm papel central nesta nova etapa de mobilização democrática e transformadora — não como moderadores passivos, mas como protagonistas de uma frente que articula poder estatal e luta social para garantir direitos, estatais e soberania.
A expectativa é de que, com pauta marcada e resistência popular, o processo avance sem arremedos de impunidade. Se a justiça fizer seu papel, teremos mais do que um veredito: teremos um recado à direita golpista de que não há espaço para tentativas de ruptura. E que, enquanto houver democracia, haverá também luta — e resistência organizada — para defender cada direito conquistado. Quem pensou que poderia intimidar a República com rascunhos e conspiratas vai descobrir que a história cobra contas!