O julgamento do chamado núcleo da trama golpista de Jair Bolsonaro que começa na próxima terça-feira (2) não é só mais um evento jurídico: é um momento político decisivo que expõe, à luz do dia, as costas quentes e as manobras de uma direita que nunca se conformou com a derrota nas urnas. Enquanto as instituições se preparam para receber jornalistas e público, a reação dos bolsonaristas e seus aliados internacionais transforma o calendário em campo de batalha simbólico — e nós, do campo popular, precisamos acompanhar cada passo com atenção e combate político.
Cobertura, público e a tentativa de encobrir a verdade
O Supremo Tribunal Federal informou que 501 jornalistas de diversos veículos estarão credenciados para acompanhar o julgamento, além dos 3.357 pedidos de cidadãos que querem assistir às sessões previstas para 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro — data em que serão proferidas as sentenças. Não é espetáculo: é história sendo escrita em público, com a imprensa e a sociedade observando de perto. O plenário da Segunda Turma disponibilizará 150 lugares ao público inscrito, enquanto a Primeira Turma, onde ocorrerá o julgamento, terá 80 cadeiras para jornalistas por ordem de chegada.
“Segundo a Procuradoria-Geral da República, formaram uma organização criminosa que tentou manter Bolsonaro no poder e impedir a posse de Lula”: Procuradoria-Geral da República
Os réus, incluindo o próprio Bolsonaro e sete ex-auxiliares, negaram as acusações na fase de interrogatório em junho — como era de se esperar, a farsa de sempre: negações, versões e acusações de perseguição. Mas a denúncia da PGR e as evidências reunidas colocam o processo em outro patamar: não se trata de disputa retórica, e sim de responsabilidade criminal por tentativas de subverter a ordem democrática.
Reforço na segurança e tática de intimidação
O tribunal anunciou policiamento ostensivo e medidas de controle rígidas nos acessos, inclusive revista com detector de metais. A Polícia Militar do DF já programou fechar a praça dos Três Poderes, e no primeiro dia do julgamento a presença da tropa de choque, do BOPE e do Comando de Operações Táticas será ostensiva, com varredura até com cães farejadores. Além da PM, policiais judiciais de outros tribunais e estados irão reforçar a segurança.
Isso não é mero cuidado: é resposta a um clima de ameaça criado justamente pelos mesmos que pregavam “ordem” enquanto financiavam e incitavam a barbárie.
“Segundo o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro tentou coagir os ministros e as instituições responsáveis pelo processo”: Alexandre de Moraes
Clima de tensão à parte, é essencial que a mobilização democrática continue nas ruas e nas redes, para que os espaços públicos não sejam ocupados por agressões fascistas travestidas de “protesto”.
Clima político e interferência externa
A peça mais nojenta desse tabuleiro é a tentativa de transformar um processo judicial em pressão diplomática e econômica. O filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro, foi acusado pelo presidente Lula de cometer traição ao incentivar retaliações dos EUA contra o Brasil por causa do julgamento. “O deputado Eduardo Bolsonaro comete traição à pátria ao estimular, nos Estados Unidos, retaliações do governo daquele país ao Brasil”: Luiz Inácio Lula da Silva
O próprio ex-presidente Donald Trump, aliado confesso de Bolsonaro, chamou o caso de “caça às bruxas” e anunciou tarifas e sanções que miraram até o ministro Alexandre de Moraes. “É uma caça às bruxas”: Donald Trump O recado é claro: quando a direita perde nas urnas, tenta mover influências externas e atacar a soberania nacional para salvar seus pares. Lula, por sua vez, tem sido enfático: “O Brasil não negocia sua soberania”: Luiz Inácio Lula da Silva
É preciso ver esse julgamento como parte de uma luta maior: não apenas a responsabilização de um grupo que conspirou contra a democracia, mas também a chance de reafirmar a capacidade do povo organizado de defender o estado e as instituições contra a escalada autoritária. A hora é de fiscalização, denúncia e mobilização popular — sem concessões aos que plantam caos e se dizem vítimas de perseguição enquanto tramam golpes.