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Tarcísio defende prerrogativas do Congresso para “pacificar” o Brasil, mas ignora anistia a golpistas

O governador Tarcísio de Freitas subiu ao palanque no aniversário de 20 anos do Republicanos para dar uma aula de hipocrisia: pediu que o Congresso mantenha “prerrogativas” para promover a tal “pacificação” do país, sem dizer uma palavra direta sobre o projeto de anistia que tenta livrar golpistas e, possivelmente, o próprio Jair Bolsonaro. A fala vem no momento em que o PL e aliados empurram pela Câmara um texto que perdoaria os responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro — uma tentativa explícita de varrer o golpe para debaixo do tapete e devolver ao Brasil a falsa ideia de “harmonia” entre os poderes enquanto se protege quem tentou desmontar a democracia.

Prerrogativas, pacificação ou impunidade?

“O Congresso Nacional tem papel fundamental nessa pacificação e a gente não pode permitir que ninguém tire essa prerrogativa do Congresso. O Congresso pode fazer os gestos no caminho da pacificação, trabalhar por uma verdadeira harmonia entre os poderes, que está desequilibrada”, disse Tarcísio de Freitas. Que frase bonita para justificar o que, no fundo, é um conserto de cordas arrebentadas: um soco de luvas brancas para proteger golpistas. Quem fala de “harmonia” hoje é quem quer enterrar investigação, processo e punição — ou seja, a única coisa que garante que a democracia efetivamente exista: a responsabilização dos que a atacaram.

O episódio não é isolado. O PL trabalha ativamente na Câmara para aprovar anistia aos condenados pelos atos de janeiro; aliados pedem um texto ainda mais amplo que atinja o próprio ex-presidente, cujo julgamento começa no STF na próxima semana. A manobra política é clara: transformar crime político em assunto de negociação parlamentar. E vocês acham que isso não tem preço? A maioria do país já deu sua resposta — e não foi sábia nem complacente com quem tentou derrubar as instituições.

Pesquisa Datafolha divulgada no início de agosto mostra que 55% dos brasileiros rejeitam o projeto de anistia para os condenados pela tentativa de golpe, enquanto 35% aprovam. Esses números expõem o fosso entre a opinião pública e a agenda de uma extrema-direita que insiste em se proteger a qualquer custo. Quem quer “pacificação” sem verdade nem justiça busca apenas a impunidade disfarçada de conciliação. Como vamos reconciliar o país se permitirmos que o agressor dite as condições do perdão?

Não se trata apenas de um debate jurídico ou de jogo de poder. É ideológico: defensores da anistia querem normalizar o golpe como se fosse um episódio eleitoral qualquer, enquanto enterram o debate sobre responsabilidades políticas e penais. É o mesmo setor que idolatra bilionários de direita, empurra privatizações e tenta desmontar estatais — e agora quer proteger seus correligionários na hora em que a democracia precisa de proteção. Será que a “harmonia” deles inclui devolver o Brasil para a lógica do mercado e do lucro privado em cima do desmonte das políticas públicas?

Nós, que acreditamos na necessidade de romper com o conservadorismo e construir um projeto popular, não podemos aceitar essa chantagem moral. A pacificação que importa é a da reconstrução democrática: investigação rigorosa, julgamentos serenos e, se for o caso, punição. Só assim se cria um terreno para mudanças profundas. Perdoar golpistas seria enterrar a memória da luta democrática e abrir caminho para novas tentativas de ruptura.

O desafio é grande, mas a saída não está na submissão às elites; está na mobilização popular, na ação política democrática e na consolidação de uma alternativa capaz de defender o Estado, as estatais e os direitos sociais. Lula e o PT aparecem, para nós, não apenas como opções eleitorais, mas como atores fundamentais para uma nova etapa de luta anticapitalista — se comprometerem com a defesa da democracia e com medidas que enfrentem os poderosos que hoje conspiram pela impunidade. A verdadeira pacificação será conquistada com justiça social e responsabilização, e não com acordos de bastidores que protegem quem atacou a República. É hora de resistir, denunciar e impedir que o Congresso entregue o país de bandeja aos que sonham com a volta do mesmo caos.

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