Em agosto o Brasil levou mais um tapa na cara da guerra comercial internacional: as exportações para os Estados Unidos caíram 18,5% e o país registrou déficit de US$ 1,23 bilhão nas trocas com a potência do norte — o pior resultado mensal do ano. Enquanto isso, nossas vendas para China, México e Argentina disparam, mostrando que há mercado — o problema, óbvio, é político e estratégico, não um suposto “problema de competitividade” que a direita adora repetir como mantra.
O tarifaço e seus efeitos
Os números são frios e claros: exportações aos EUA somaram US$ 2,76 bilhões em agosto, contra importações de US$ 3,99 bilhões. No acumulado de janeiro a agosto, o rombo chega a US$ 3,48 bilhões — um aumento de 370% em relação ao mesmo período do ano passado. Tudo isso acontece num contexto em que os EUA impuseram um tarifaço progressivo, com sobretaxa chegando a 50% para cerca de 36% das vendas brasileiras a partir de 6 de agosto. O presidente Donald Trump tentou justificar a agressão com supostas razões econômicas e também políticas — inclusive citando o processo contra Jair Bolsonaro — e alegou preocupações sobre “direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”. “direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”, Donald Trump.
O resultado prático? Menos vendas para os EUA, mais pressão sobre setores sensíveis da economia brasileira e a necessidade de intervenção estatal para segurar empregos e cadeias produtivas. Não se trata de fatalidade: trata-se de disputa de poder entre Estados e corporações. O tarifaço de Trump não é só um ataque às exportações brasileiras — é um recado dos bilionários que comandam o comércio internacional.
Vale lembrar também que o déficit dos EUA com o Brasil não é novo: desde 2009, as vendas americanas ao Brasil superaram nossas exportações em US$ 88,61 bilhões. Ou seja, isso aí não é uma “surpresa” — é consequência de uma relação econômica marcada pela dependência e pela dominação comercial que governos turísticos ao capital sempre alimentaram.
As medidas do governo e o papel do Estado
O governo federal reagiu com um pacote de socorro ao setor exportador: linha de crédito de R$ 30 bilhões condicionada à manutenção de empregos; instrumentos de seguro à exportação; diferimento de impostos para empresas mais afetadas; prorrogação do prazo do drawback; novo Reintegra e estímulo a compras públicas para programas sociais. Também haverá esforço diplomático para diversificar mercados. Entre essas ações, algumas são essenciais; outras, paliativas.
Não adianta remédio homeopático para crise construída por megacorporações e governos imperialistas — é preciso política industrial, proteção estratégica e fortalecimento das estatais. O financiamento anunciado é positivo, e o governo Lula acerta em usar o estado para amortecer o golpe — exatamente o contrário da receita privatista que a direita sempre empurra. Mas a resposta precisa ser ampliada: compra pública ativa, estímulo aos insumos nacionais, coordenação entre Banco do Brasil, BNDES e empresas públicas para garantir crédito e inovação são medidas que não podem ficar no discurso.
O dado alentador da história é que, apesar do choque com os EUA, a balança comercial brasileira como um todo registrou superávit de US$ 6,13 bilhões em agosto, puxado por crescimento de exportações para China (+29,9%), México (+43,8%) e Argentina (+40,4%). Isso mostra que há alternativas e caminhos para reduzir a dependência dos mercados norte-americanos — se houver vontade política para ousá-los.
A fatura política é clara: enfrentar o tarifão é também uma batalha ideológica contra a direita global que quer dominar mercados e impor regras que asfixiam nossos trabalhadores. Defender estatais, ampliar o papel do Estado na economia e fortalecer a cooperação comercial com parceiros do Sul são passos que não são apenas necessários — são urgentes. Quem vive do mercado não pode continuar entregando a soberania econômica nas mãos dos mesmos que patrocinam golpes e privatizações. E aí, vamos reagir com coragem ou vamos deixar os bilionários mandarem na nossa pauta?