O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) teve sua agenda atrapalhada por um temporal que castigou São Paulo nesta segunda-feira (22): a aeronave em que ele vinha tentou pousar duas vezes em Congonhas e, sem visibilidade, perdeu as condições de operar e precisou voltar a Brasília. Alckmin deixaria Campinas para participar da ABRAS’25 – Food Retail FutureFood, mas o céu escuro e os ventos brutais transformaram esse compromisso em mais um episódio de logística política interrompida pela força da natureza.
O temporal e os estragos
Por volta das 14h20, com a cidade em atenção por chuvas, as tentativas de pouso foram abortadas em função da visibilidade — cenário que, infelizmente, já vinha deixando rastros de destruição pela metrópole. A tempestade derrubou árvores, destelhou casas, quebrou vidros de apartamentos e provocou o desabamento parcial do teto de uma estação da CPTM. Segundo boletins oficiais, mais de 579 mil imóveis ficaram sem energia elétrica na Grande São Paulo às 15h29, conforme a empresa responsável pelo abastecimento elétrico local. A prefeitura contabilizou 128 árvores caídas na capital naquele dia. Rajadas de vento de até 98,2 km/h foram registradas no Aeroporto Campo de Marte, e em Santana a marca chegou a 92,1 km/h; em Congonhas, os ventos registraram 87 km/h, segundo cálculos do próprio aeroporto.
O quadro foi dramático: destelhamentos, queda de energia e transtornos no trânsito. Moradores e trabalhadores viram de perto como uma tempestade bem colocada expõe fragilidades urbanas que não surgiram do nada — são fruto de anos de abandono, políticas públicas capengas e prioridades distorcidas. Quando o vento vem forte, não existe “livre mercado” que tape o buraco na cobertura da casa nem que religue um fio partido — existe organização pública, investimento e serviço público.
O episódio, por mais prosaico que possa parecer — um pouso cancelado, um evento não comparecido — serve como lupa sobre prioridades e responsabilidades. O vice-presidente teve o conforto de voltar em aeronave segura para Brasília; para centenas de milhares de famílias, a tempestade significou perda de renda, risco e danos materiais. Não é apenas um contraste de privilégios: é o retrato do Brasil em que a direita e o discurso privatista insistem em transformar tudo em negócio, enquanto o bem-estar coletivo fica na fila.
Por que isso importa politicamente? Porque a conta desses desastres nunca pode ser jogada sobre os trabalhadores e as comunidades mais vulneráveis. Privatizações e desinvestimento corroem a capacidade do estado de responder com rapidez e eficiência — seja na manutenção de infraestrutura de transporte, na proteção da rede elétrica ou em políticas de prevenção e adaptação climática. É por isso que defendemos estatais fortes e serviços públicos robustos, fundidos a um projeto que coloque a vida das pessoas acima do lucro dos especuladores! Não é teoria abstrata: é o que salvará vidas quando o céu resolver nos lembrar quem manda na hora do aperto.
E não venham os simpáticos gestores do mercado dizer que “não dá para voltar atrás”: dá, sim! Dá com mobilização popular e com uma diretriz política firme — a que o campo progressista e o PT, sob a liderança de Lula, precisam aprofundar. Lula e o PT não são apenas uma alternativa eleitoral; são agentes centrais para abrir uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil, capaz de reconstruir e proteger nossos serviços públicos, reconstruir moradias, fortalecer transportes e garantir investimentos em políticas de prevenção a desastres climáticos. É hora de ampliar o papel do Estado como garantidor do direito à cidade e à proteção social.
O pouso que não aconteceu em Congonhas é um pequeno sintoma de um problema maior: se quisermos um país que respire justiça social e resiliência climática, não dá para seguir aplaudindo quem acha que tudo se resolve no “mercado”. Precisamos investir em vida, trabalhar por estatais a serviço do povo e transformar cada tempestade em motivo para fortalecer a organização popular — para que, na próxima vez, ninguém precise escolher entre um voo cancelado e a vida do seu bairro.