O julgamento da chamada trama golpista entra na sua reta final e mostra, mais uma vez, que a tentativa de interromper a vontade popular em 2022 não foi obra de amadores — foi uma operação coordenada com tentáculos nas Forças Armadas, na alta cúpula do governo e na máquina do Estado. Enquanto as defesas arrancam os últimos prazos, o país assiste ao que pode ser um momento decisivo para a democracia brasileira: ou desmontamos de vez a direita golpista, ou continuaremos a pagar o preço de sua impunidade.
Última etapa: alegações finais
As defesas de Jair Bolsonaro e de mais seis réus têm até quarta-feira (13) para apresentar as alegações finais ao Supremo Tribunal Federal (STF). Concluída essa etapa, o relator, ministro Alexandre de Moraes, poderá pedir a inclusão do caso na pauta da Primeira Turma do Supremo — a expectativa é que a Corte decida em setembro se absolverá ou condenará os acusados por liderar uma tentativa de golpe para manter Bolsonaro no Planalto após a derrota nas urnas. É hora de responsabilizar quem tentou liquidar a alternância de poder no Brasil.
Os réus apontados pela Procuradoria-Geral da República como integrantes do denominado “núcleo crucial” são: Jair Bolsonaro; Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin); Almir Garnier (ex-comandante da Marinha); Anderson Torres (ex-ministro da Justiça); Augusto Heleno (ex-ministro do GSI); Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil); e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa). Também integrava o grupo o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada e já teve sua peça de defesa apresentada, abrindo espaço para que as alegações finais dos demais réus sejam plenamente exercidas.
As defesas anunciam que irão pedir a absolvição com base em questões processuais e sustentar a inocência substantiva — a velha cartilha de negar o óbvio. “Estamos em fase de revisão, finalizando o material e, por isso, devemos usar todo o prazo de 15 dias” — disseram, em tradução livre, as equipes jurídicas à TV Globo. Se o objetivo é protelar, cumpriram o roteiro: usar todo o prazo enquanto o país acompanha o desfecho.
Por sua vez, a PGR não se deixou intimidar e deixou claro o teor das acusações nas alegações finais. “Não há como negar fatos praticados publicamente, planos apreendidos, diálogos documentados e bens públicos deteriorados. Se as defesas tentaram minimizar a contribuição individual de cada acusado e buscar interpretações distintas dos fatos, estes não tiveram como ser negados”, escreveu o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet. Essa é uma denúncia pesada: a acusação vai além de atos isolados e aponta para um plano sistemático para enfraquecer instituições e até eliminar autoridades, segundo a peça.
Bolsonaro, que hoje cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, é apontado como líder da organização criminosa. Não se trata de caça a fantasmas, mas de um padrão de condutas, reuniões, mensagens e ordens que, somados, configuram tentativa de subverter a ordem democrática. Se a justiça falhar aqui, a democracia brasileira sai mais frágil e a direita golpista ganha munição para novas aventuras.
O processo segue agora para o crivo final: as alegações finais das defesas, a contrarrazão da PGR e, em seguida, a decisão colegiada dos ministros. É uma oportunidade para o Judiciário afirmar que no Brasil ninguém está acima da lei — especialmente aqueles que tentam transformar o Estado em instrumento de milícia política. Para os democratas e para os militantes de um projeto popular autêntico, liderado pelo campo progressista e pelo PT na construção de alternativas anticapitalistas, este é um momento de vigilância e mobilização. Se queremos enterrar definitivamente o bolsonarismo e suas ramificações, é hora de cobrar consequência, não apenas retórica. O país observa e exige respostas.