O primeiro dia de julgamento do chamado núcleo crucial da trama golpista no STF foi mais que um espetáculo jurídico: foi a fotografia de uma tentativa de transformar o Brasil num laboratório de autoritarismo que felizmente fracassou. Pela primeira vez na história, um ex-presidente e seus auxiliares mais próximos são deslocados do altar da impunidade para o banco dos réus — e isso precisa ser celebrado por quem não quer ver o país entregue aos caprichos dos militares e dos bilionários de direita! É hora de apontar culpados e desmontar a retórica que tentou normalizar o inaceitável.
Mauro Cid
Ex-ajudante de ordens, apresentou delação que, segundo a PGR, ajudou a ligar pontos como a chamada “minuta do golpe”. Cid se coloca como executor de tarefas e pede que o benefício da colaboração seja mantido. A defesa diz que ele apenas cumpria ordens e que sua colaboração é essencial para a investigação. Quem mandou participar de um governo que transformou instituições em extensão de campanha não pode agora chorar quando a conta chega.
Alexandre Ramagem
Ex-diretor da Abin e hoje deputado, acusado de usar a agência para alimentar a trama golpista e disparar ataques ao sistema eleitoral. Por ter sido diplomado deputado, responde a menos acusações — ironia ou artifício legal? A narrativa oficial de inocência tenta fingir que a Abin virou secretaria particular de um projeto antidemocrático; só falta o figurino de carnaval.
Almir Garnier
Ex-comandante da Marinha, apontado por colocar tropas à disposição de Bolsonaro. A PGR o coloca no eixo militar que flertou com a ruptura institucional; a defesa joga com contradições de depoimentos alheios. Mas será que, no momento em que as casernas participam de estratégias para depor o povo, podemos aceitar versões atenuantes?
Anderson Torres
Ex-ministro da Justiça, ligado à minuta de decreto de estado de defesa apreendida em sua casa. Torres nega autoria do documento e afirma que não havia intenção de agir contra o sistema eleitoral. Verdade ou teatro de defesa? A história do Brasil recente mostra que negar é técnica rotineira da extrema direita.
Augusto Heleno
Ex-ministro do GSI, acusado com base em anotações apreendidas. A defesa trata-as como meros lembretes pessoais e reduz a influência do general no segundo ano de governo. Interessante: quando convém, a memória do aparelho de Estado vira “lembrança”, quando incomoda vira prova.
Paulo Sérgio Nogueira
Ex-ministro da Defesa e o único réu presente no primeiro dia, acusado de instigar apoio das Forças Armadas à tentativa de golpe. A PGR registra que ele endossou a narrativa de fraude e instigou intervenção militar. “PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA, que endossou a narrativa de fraude no sistema eletrônico de votação e afirmou que a Comissão de Transparência Eleitoral seria ‘pra inglês ver’.” — trecho da denúncia da PGR. Em gravação citada pela acusação, ele afirmou: “O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo… Eu vou romper aqui e iniciar minha operação.” — Paulo Sérgio Nogueira. A defesa contra-ataca alegando que Nogueira tentou evitar medidas radicais e chegou a redigir discurso em que Bolsonaro reconheceria o resultado — defesa do ex-ministro —, versão que soa como tentativa desesperada de reescrever fatos.
Walter Braga Netto
Ex-ministro da Casa Civil, citado em documentos como a “Operação 142” que planejava ofensivas contra o STF e medidas de exceção. A defesa diz que a acusação se sustenta quase só na delação de Mauro Cid e que faltam provas materiais. Será que a justificativa de “invenção” sobrevive diante de um aparelho documental e de depoimentos coordenados?
A sessão expôs aquilo que a militância já sabia: bolsonarismo é projeto para entregar o país às mãos de ricos e milicos, destruir estatais e privatizar o pouco que resta do patrimônio público. O julgamento não é só sobre pessoas; é sobre impedir que a direita autoritária transforme o país numa base para seus lucros e seu ódio. Não podemos normalizar a audácia golpista nem aceitar que a impunidade vire política de Estado. Lula e o PT têm a tarefa histórica de liderar a reação democrática e social — não apenas para restaurar a normalidade institucional, mas para abrir caminho a um projeto popular que defenda estatais, serviços públicos e direitos sociais. Quem quer enterrar essa possibilidade já mostrou a cara — agora é hora de responsabilização, memória e mobilização!