A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal vai finalmente enfrentar a ação penal contra Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de arquitetar a tentativa de golpe que culminou nos ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. Dois anos depois daquele espetáculo de barbárie golpista, que deixou claro o extremo da ofensiva reacenda contra a democracia, o país volta a ver no banco dos réus não apenas uma turma de extremistas, mas a face organizada de um projeto autoritário que tentou, sem pudor, substituir voto por violência.
O que ocorreu em 8 de janeiro
Na manhã de 8 de janeiro, apoiadores do então presidente derrotado invadiram e depredaram o Congresso, o Supremo e o Planalto. Foram horas de destruição: móveis, objetos históricos e símbolos públicos vandalizados enquanto parte da polícia e setores do Estado demoravam a conter a onda. Muitos foram presos, mas o estrago estava feito. A tentativa de golpe não foi um ato isolado: foi a consumação de uma estratégia montada desde 2021. Aquilo não foi “loucura espontânea” — foi plano, preparo e conivência.
Como a PGR conecta o núcleo golpista ao 8 de janeiro
A Procuradoria-Geral da República detalhou em suas peças acusatórias que os atos daquele dia foram o “desfecho violento” de uma trama incubada por anos. “Excluam-se as contribuições da organização criminosa e o 8.1.2023 não teria sequer sido cogitado”, disse o procurador-geral Paulo Gustavo Gonet Branco, resumindo a tese central do processo. Segundo a PGR, episódios que antes pareciam meramente reprováveis ganharam um novo significado quando vistos como peças de um plano maior de ruptura institucional. “O 8.1.2023, visto de forma retrospectiva, nada mais consistiu do que o desfecho violento que se esperava.”
Para Gonet, o objetivo era claro: criar instabilidade que justificasse medidas de exceção e abrir caminho para a intervenção militar. “A organização criminosa desejou, programou e provocou a eclosão popular… O apoio popular para as medidas era forjado com a disseminação da desconfiança no processo eleitoral”, afirmou o procurador. E quem foi o rosto dessa narrativa? Ninguém menos que o próprio Jair Bolsonaro, identificado como “o líder enaltecido pelos manifestantes” — o pregador que alimentou fantasias sobre fraudes e incitou desprezo pelas instituições.
Bolsonaro aparece como líder enaltecido — o rosto público de um projeto autoritário que tentou varrer a democracia! O relatório da PGR também aponta uma surpreendente sofisticação tática entre os vândalos: técnicas de guerrilha urbana, uso coordenado de mangueiras e improvisação de equipamentos, o que, diz a investigação, indica presença de pessoas com treinamento militar. “Registre-se que Mauro Cid confirmou a inserção, nos acampamentos, de militares com formação em Forças Especiais — os denominados ‘kids pretos'”, relata a peça ministerial.
A investigação concentra-se num “núcleo crucial” de oito acusados — além de Bolsonaro, nomes como Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto — que respondem por crimes que vão da tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito à participação em organização criminosa armada, além de dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
A ação do STF será, portanto, muito mais do que um julgamento jurídico: é um teste político sobre se o Estado brasileiro tem força para castigar a tentativa organizada de ruptura democrática e para dissociar o país da extrema-direita que insiste em voltar às trevas. Para nós, militantes e democratas, é também hora de não ceder terreno: defender as estatais, combater o discurso dos bilionários que financiam a reação e fortalecer uma frente popular que dobre a aposta contra o conservadorismo rasteiro. A história nos observa — e a responsabilidade de derrotar, juridicamente e politicamente, esse projeto autoritário nunca foi tão urgente!