O decreto que oficializa a chamada TV 3.0 — anunciada no Brasil como DTV+ — foi assinado pelo presidente Lula nesta quarta-feira (27) e imediatamente reacende uma disputa política que não é apenas tecnológica, é ideológica. Enquanto a direita grita contra tudo que cheire a soberania nacional e estatais, o governo do campo progressista tenta garantir que a televisão aberta permaneça como um bem público, atualizada e capaz de oferecer mais do que replayes de entretenimento: uma plataforma para comunicação popular e disputa de sentidos. “A infraestrutura de internet no Brasil está preparada para assumir essa nova tecnologia, para trazer televisão aberta, gratuita, interativa, que esse é o principal propósito do projeto como um todo”, disse o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, em entrevista à GloboNews. “Será um grande celular na sua frente”, acrescentou o ministro ao tentar simplificar o que vem por aí.
A promessa soa bem — e deve ser cobrada com firmeza! A tecnologia, segundo o governo, permitirá que cada usuário escolha o que quer ver: rever um lance do futebol, assistir o capítulo da novela que perdeu, até interagir com conteúdos e anunciantes. “É um acesso para cada usuário, que vai poder assistir o capítulo da novela que tem interesse, rever um lance de futebol, isso é a interatividade da TV. O usuário também estará mais próximo do anunciante”, afirmou Siqueira Filho, sem esconder o lado comercial da novidade. Não podemos ser ingênuos: interatividade também pode significar mais dados capturados, mais diretórios de consumo nas mãos de empresas e mais espaço para publicidade massificada. Tecnologia não é neutra — ela serve a alguém. Ou vai servir ao povo, ou vai servir aos oligarcas da comunicação!
O cronograma divulgado prevê que a tecnologia comece a chegar à população já em 2026, inicialmente nos grandes centros. As TVs antigas precisarão de um conversor, cujo custo estimado pelo ministro fica entre R$ 300 e R$ 350 — um valor que pesa no bolso das famílias trabalhadoras. A promessa é que, no futuro, os aparelhos novos já venham com a tecnologia integrada, e que as duas transmissões (a atual e a DTV+) vivam de forma paralela enquanto acontece a migração, que pode levar até 15 anos. Isso significa um longo período de transição onde políticas públicas serão essenciais: distribuição de conversores subsidiados, proteção às emissoras públicas e regulação forte contra monopólios.
DTV+: o que muda e para quem muda
A DTV+ não é apenas mais uma sigla. Historicamente, começamos na TV 1.0, analógica e em preto e branco; depois veio a TV 2.0, colorida e com acesso à internet; agora, a TV 3.0 promete maior personalização, qualidade de som e imagem e, sobretudo, interatividade. “A TV 3.0 representa o próximo patamar da televisão digital e entregará mais interatividade, personalização e qualidade de imagem e som”, disseram especialistas do setor. Isso abre possibilidades democráticas — e riscos comerciais — que precisam ser debatidos nas praças públicas e nas câmaras legislativas. Afinal, quem controla a narrativa quando um “grande celular” está na sala de milhões de lares? Quem lucra com a coleta de dados e com a exposição ao anunciante?
O momento exige nitidez política: o projeto só terá sentido se for usado para ampliar a comunicação pública, fortalecer rádios e TVs estatais, e restringir a voracidade mercantil que o bolsonarismo e seus aliados tanto idolatraram. É hora de transformar tecnologia em ferramenta de emancipação e não em instrumento de venda e vigilância. Lula e o campo que ele representa têm uma responsabilidade histórica — não apenas modernizar o parque tecnológico, mas garantir que essa modernização aqueça a luta por direitos, não a conta bancária dos bilionários de sempre.
Se a DTV+ for aprovada como política pública e não entregue de bandeja às corporações, poderá ser uma conquista real para a comunicação democrática no Brasil. Mas cuidado: sem luta organizada e sem pressão popular, a “interatividade” pode virar eufemismo para privatização de conteúdo e aprofundamento do capitalismo de dados. Vamos acompanhar, disputar e impor que a televisão aberta continue sendo instrumento de um projeto popular, antineoliberal e contra a ofensiva da direita!