Circula nas redes um vídeo que vem sendo usado para embaraçar e manipular: trata-se de um deepfake com trechos adulterados atribuídos ao youtuber e humorista Felipe Bressanim Pereira, o Felca, em que ele supostamente defende o presidente Lula e ainda critica brasileiros que comemoraram a tarifa de 50% aplicada pelos EUA ao agro brasileiro. A peça é falsa — produto de uma ofensiva digital que mistura tecnologia, desinformação e intenção política. Não é coincidência: é tática!
O que circulou
O post apareceu em TikTok, Facebook, Threads e YouTube no começo de setembro e mostra um trecho de uma entrevista do programa Conversa com Bial (TV Globo/GNT), com uma sobreposição de imagem do presidente Lula na parte inferior. No áudio adulterado, o narrador fabricou falas como: “O único presidente que já teve coragem de peitar o império, de mandar recado duro para quem sempre humilhou o Brasil, hoje é tratado como inimigo por brasileiros” e ainda um trecho em que Felca criticaria quem aplaudiu a tarifa americana: “Quando o gringo meteu 50% de tarifa no agro, teve gente daqui que bateu palma” — ambas frases não foram ditas na entrevista original. Mentira mastigada e servida em vídeo.
Por que é #FAKE
A checagem do Fato ou Fake comparou a gravação com a transcrição completa do Conversa com Bial, exibido em 26 de agosto de 2025, e não encontrou as falas atribuídas a Felca. Além disso, o áudio contaminado foi submetido à plataforma Hiya, que indica o nível de autenticidade de falas geradas ou manipuladas por IA: a peça recebeu nota 10 em 100 — padrão de deepfake. Ou seja: trata-se de adulteração clara e profissionalmente produzida com o objetivo de plantar narrativas favoráveis à direita e de desmoralizar vozes críticas ao agronegócio e ao alinhamento imperial. Quem produz e espalha isso sabe exatamente o que faz: desmoralizar aliados do povo e proteger interesses dos poderosos.
O caso entra num contexto tenso. Em 6 de agosto, Felca publicou um vídeo denunciando a exploração de crianças e adolescentes por creators adultos — denúncia que o expôs a ataques e ameaças de morte. Em sua fala real para o Bial, Felca explicou o motivo do posicionamento: “Fiz isso por ver que existem crianças e adultos por aí que foram também a criança que eu fui, sozinha, sem voz”, disse ele, relatando o impacto emocional e social da situação. A denúncia desencadeou investigações, medidas políticas e culminou na prisão do influenciador Hytalo Santos e de seu marido em 15 de agosto. No meio dessa mobilização, parlamentares já tentavam capitalizar o tema: em 10 de agosto, o presidente da Câmara, Hugo Motta, prometeu pautar projetos sobre proteção de crianças na internet.
É necessário entender a composição desse ataque: tecnologia de ponta ao serviço da direita radical, com o objetivo óbvio de amassilhar reputações, confundir militância e fortalecer a narrativa de “caos” sempre útil ao bolsonarismo e às elites. Esses mesmos que idolatraram privatizações e bilionários agora se valem de deepfakes para fabricar consenso e criminalizar lutadores sociais.
A resposta deve ser política e prática: checagem imediata, denúncia das plataformas que viralizam o conteúdo e pressão por legislação que regulamente o uso de IA para deepfakes políticos. Além disso, é fundamental que a militância e a imprensa progressista mantenham a vigilância ativa — desconfiar, verificar, expor. Como movimento, precisamos não só derrotar esses ataques nas redes, mas desmontar politicamente o campo que financia e apoia esse tipo de guerra suja.
Que fique claro: a manipulação não nos intimida. Defender Lula e fortalecer o projeto do PT — que representa uma etapa necessária na construção de uma alternativa anticapitalista popular — exige que denunciemos cada jogada suja dos reacionários. Expor o deepfake é só o começo; a batalha é ideológica, cultural e jurídica. Não entregaremos campo nem narrativa para quem quer fabricar mentiras e manter privilégios!
