luta socialista

Zambelli participa por vídeo de comissão da Câmara que analisa perda do seu mandato enquanto está presa na Itália

A cena tem tudo para entrar no rol dos filmes bizarros da direita brasileira: uma deputada condenada pelo STF que foge do país, passa por Argentina e Estados Unidos e acaba presa na Itália; e agora, enquanto cumpre medida cautelar num presídio romano, participa — por videoconferência — de uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para avaliar a perda do seu mandato. Carla Zambelli virou o emblema vivo da fuga de responsabilidades políticas e criminais. Não é apenas uma questão jurídica: é um sinal claro de como o bolsonarismo e suas ramificações tentam escapar da lei quando o jogo vira contra eles. A política do espetáculo, que sempre cabulou o regime democrático, enfrenta agora a consequência dos próprios atos.

O que está em jogo

Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão por participação na invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, episódio que chacoalhou o aparato institucional ao expor dados sensíveis e tentar desestabilizar instituições. A condenação transitou em julgado. Em vez de assumir as responsabilidades, a deputada deixou o Brasil no final de maio — uma fuga que passou pela Argentina e pela Flórida antes de desembocar na Itália, onde acabou presa no prédio onde se escondia, em Roma, e recebeu voz de prisão da Interpol. A máscara caiu: não havia bravura, havia fuga e covardia.

O caso é inédito para a Câmara. Segundo o relator Diego Garcia, a análise sobre a perda do mandato só avançou depois que a justiça italiana se posicionou. “Nunca houve parlamentar do Brasil preso no exterior respondendo à ação de perda de mandato”, disse Paulo Azi, presidente da CCJ. A defesa alega que houve autorização da justiça italiana para que Zambelli participe das oitivas; o advogado Fábio Pagnozzi confirmou a participação por videoconferência e argumenta que a parlamentar teve o direito de ser ouvida mesmo estando detida. “A autorização foi feita pela justiça italiana”, afirmou Fábio Pagnozzi.

A singularidade do episódio abre um debate sobre soberania, cooperação internacional e a necessidade de aplicar a lei a todos, independentemente do sobrenome ou da plateia que costumam ter. A Câmara precisa agora decidir se homologa ou não a perda do mandato — um procedimento que, neste caso, tem contornos políticos e institucionais raros. Azi destaca o caráter inédito do processo e a necessidade de cautela institucional diante de um precedente que pode servir de bússola para casos futuros.

Defesa, estratégia e teatro

A defesa anunciou como uma de suas linhas de ataque a tentativa de desacreditar testemunhas-chave. Em síntese: mostrar que o hacker Walter Delgatti mentiu. “Uma das estratégias vai ser mostrar que Delgatti mentiu”, disse a defesa. Zambelli foi autorizada a ouvir duas testemunhas — Delgatti e Michel Spiero, assistente técnico da defesa na ação penal. A fase técnica para a apresentação da defesa na CCJ está marcada para 17 de setembro, mas já se sabe que a tática será transformar o processo em espetáculo midiático, numa tentativa de reverter a opinião pública e ganhar tempo político.

A narrativa da defesa tentou — com a pitada de comédia trágica que só a direita sabe produzir — humanizar a fuga: segundo o advogado, a deputada estava pintando e lavando o cabelo quando a polícia italiana chegou. “Ela estava no apartamento pintando e lavando o cabelo quando a polícia italiana chegou para efetuar a prisão”, disse o advogado Fábio Pagnozzi. Não importa a anedota: a verdade é que a lei alcançou quem acreditava estar acima dela.

O desfecho deste capítulo será simbólico. Ou a Câmara confirma que o país não tolera parlamentar que comete crimes graves contra as instituições, ou fará afagos à impunidade, abrindo caminho para que a extrema-direita continue apostando em estratégias de escapismo e espetáculo. É hora de lembrar que derrotar o bolsonarismo não é apenas retórica de campanha — é garantir que a justiça e a política se sobreponham ao lote de marionetes e bilionários que financiaram esse ciclo de degeneração democrática. Se a esquerda real quiser aproveitar essa janela, que não se contente com restauração: que direcione a energia para avançar na construção de um projeto popular que desmonte as raízes do poder conservador e entregue mais poder ao povo.

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